CAVALGADA
A prática da cavalgada é classificada como uma festa por envolver uma programação com data, horário, distribuição de atividades, participações musicais convidadas e a presença de amigos, familiares e populares interessados. A logística e todo o processo dela remete-se a uma festividade local e tradicional da região. Sendo assim, fica clara a compatibilidade da cavalgada com a classificação de festa. As condições desta prática, atualmente, encontram-se em plena integridade e vigência. Os festejos acontecem com roteiro definido. Um percurso é traçado para os cavaleiros, amazonas, seus familiares e amigos. Posteriormente o percurso é realizado se tornando uma grande confraternização móvel até a última parada e finalização da festa onde acontece um espetáculo com alguma banda famosa ou mesmo uma missa de vaqueiro, dependendo do calendário religioso. “Bom, a nossa cavalgada aqui em Jaramataia no dia 1º de maio já vem há treze anos, já virou tradição na cidade. Ai a gente tem um povoado ali, chamado Cágados, na casa do seu Edinho e ele já tá com noventa anos e disse a gente, ité quando a gente ficasse no comando dessa cavalgada é o comando do grupo pinheiro de Jaramataia, ele queria que saísse de lá os cavaleiros, amazonas e todos que vinhessem fazer a cavalgada. Então levando como tradição isso, nós sai de lá às nove horas da manhã, se toma café, aquele café nordestino mesmo e a gente sai cavaleiros, amazonas, [...] as pessoas de moto, carro, a gente vem para cidade de Jaramataia que é pertinho, cerca de dois quilômetros. Lá na cidade a gente passa nas ruas principais, o povo fica nas calçadas olhando nosso movimento, da cidade a gente sai do mesmo jeito, passa no povoado São Pedro e lá a gente faz o bate-cela, seria o primeiro bate-cela lá. Lá desce dos cavalos, o cavalo vai beber água, a gente vai tomar aquela cervejinha, tomar aquele negocinho, bater um papo, conversar com os amigos, ai demora uma hora de relógio lá. Lá é que segue para um outro povoado chamado Fazenda Nova e a gente faz o mermo, a merma coisa, desce dos cavalos toma aquela cervejinha, bate um papo com todo mundo, toma mais uma hora no máximo duas horas de lá agente segue merma romaria com cavaleiros, mesmo roteiro e vem pra fazenda próxima que é a fazenda do seu João Pinheiro, lá na fazenda a gente tem banda de forró, a gente tem o almoço, tem um churrasco e tem alguns prêmios que a gente dá o pessoal, ai vai até nove, dez horas da noite encerrando a cavalgada nesse roteiro. A saída geralmente é nove horas da manhã e encerramento é dez da noite. [...] De lá do café-da-manhã pro primeiro bate-cela é uma hora, uma hora e dez. E do segundo bate-cela, do primeiro bate-cela ao segundo é menos, dá uns 50 minutos. E do último bate-cela para chegar na fazenda, o encerramento você gasta uma hora de relógio. [...] É ultimamente a que nós estamos fazendo é de 500 a 700 cavaleiros, isso ai cada vez mais vai aumentando. Vai aumentando e a gente pega gosto na coisa e até quando for vivo, vamos fazendo”. (PINHEIRO, José em entrevista) “Sai convidando uns amigos, convidando, convidando, faz uma reunião com todos, mata porco, mata bode e convida os cavaleiros, né. Ai no dia da gente sai, cinquenta, cem cavaleiros, oitenta, ai sai daqui, vai pro Cajueiro, vai para o Camanganta, sai o carro de som, cantando boada, vaqueada, o carro de som, cantando vaquejada, quem toma cachaça, sai amontado, tomando cachaça”. (NELSON, em entrevista). “Faz tempo, acho que uns dez anos, saimos daqui para Camandá, longe daqui, né, esse ano teve, agora todo ano tem, tem uma santa aqui, lá vizinho onde a gente teve, que teve cavalgada no dia da procisão, mas é primeiro a cavalgado, o pessoal andando, gosta de festejar”. (NELSON, em entrevista). Se considerarmos que o trajeto é realizado com fazendeiros e seus familiares, equipes de haras das regiões vizinhas que são convidadas, camisas vendidas para “manutenção” da festa, não é obrigatório segundo os organizadores, no entanto caso os participantes não comprem a camisa o local da última parada só poderá ser acessado por aqueles que a estiverem usando. O café da manhã é realizado para “todos”, no entanto, há um cercado “vip” cujo acesso é exclusivo para a família dos políticos, organizadores e afins. Estes ficam acomodados em uma enorme tenda e são servidos antes que os outros. Durante as andanças e analisando as particularidades que envolvem a cavalgada, fica notória a elitização dessa festividade. O cavaleiro e suas montarias vêm de longe e os animais são transportados em caminhões próprios alugados para este fim. Cavalariços ficam responsáveis pelo desembarque dos cavalos e por cuidar deles antes e depois da cavalgada iniciar-se. Houve uma grande ressignificação do cavalo no sertão e no agreste. Antes, meio de transporte e trabalho comum aos mais e aos menos abastados, o cavalo tornou-se elemento de status social. Na função de meio de transporte, nas classes populares foi largamente substituído pela motocicleta ou pelas motos de 50 cilindradas do tipo “shineray”. Em Olho d’Água das Flores foi relatado aos membros da equipe que alguns vaqueiros utilizam motocicletas para tanger gado. Nas cavalgadas, enquanto os mais abastados seguem o trajeto montados em seus belos animais, os mais pobres fazem o mesmo percurso em suas motocicletas.