RITUAL DO ENCANTADO
O ritual dos encantados não foi presenciado no trabalho de mapeamento. Apenas menções feitas a ele em passagens curtas das falas de entrevistados. A cacique Maria das Graças (Nina) da aldeia dos Katokinn em Pariconha relata da seguinte forma quando perguntada sobre o ritual dos Praiá: “O ritual dos praiás a gente temos, é ali naquela casinha que vocês estão vendo, os trajes deles é guardado alí, a gente temos dezoito, dezoito homi que trabalha com eles, então é quando ele sai pra receber uma promessa pra festa de ano, é o ritual a queima do cansanção que é a corrida do imbu, eles faz parte desse ritual” (Cacique Nina-entrevistada). De acordo com referência bibliográfica a partir do livro de Gilberto Geraldo Ferreira (2013), “[...] o Praiá representa o centro do segredo religioso indígena. [...] o Praiá é uma representação da divindade, é o encantado quem recebe um nome, incorporado simbolicamente por um ser vivo para representá-lo com vestimenta própria e única. Representa o material do mensageiro chamado também de “espírito-encantado” (FERREIRA, 2013, p.65). O autor relata em sua pesquisa entre os Jeripancó o difícil acesso às informações sobre o significado do ritual dos Praiá uma vez que está relacionado aos segredos guardados pelos iniciados. “[...] Em alguns momentos, os índios se referem ao Praiá como um encantado, um espírito; em outros, pode significar uma vestimenta, ou uma pessoa que representa o Praiá naquela comunidade. É ela quem usa a vestimenta. Não há palavras que possam explicar com maior precisão o que é um Praiá, porque o significado completo está imerso na cultura indígena, a cuja existência não é dada explicação” (FERREIRA, 2013, p.66). Embora o autor se refira aos Jeripancó, etnia específica sobre a qual dedica sua pesquisa, o Praiá é tradição presente e em vigência nos grupos indígenas do tronco Pankararu que migraram para o alto sertão de Alagoas. “[...] o Praiá possui uma dimensão da fortaleza do povo Jiripancó; faz uma interligação entre o mundo real e o sobrenatural, representa a simbologia máxima da existência indígena. Mesmo os índios que não frequentam os rituais respeitam e “obedecem” às decisões tomadas por aqueles que vivenciam essas práticas [...]” (FERREIRA, 2013, p. 67). “[...] Observa-se a necessidade de uma vivência intensa de intimidade e de participação no cotidiano indígena para se relacionar com os encantados, para se referir ao sobrenatural, porque não se faz tanta dicotomia entre Praiá – vestimenta, Praiá – encantado e Praiá – humano” (FERREIRA, 2013).