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ROMARIAS

Segundo o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular as romarias é um “rito que consiste na peregrinação de conjunto de pessoas, que, por devoção, saem em viagem a um local de veneração religiosa (santuário). Realiza-se sob a forma de cortejo”(CNFCP). No que tange a sentidos e significados imbricados nas romarias, Cordeiro (2008, p. 3) explica que “como eventos religiosos, as romarias carregam em si um ‘sentido de busca’ na medida em que se constituem ritos de passagem do comum para o extraordinário, do quotidiano para o excepcional. Embora se revistam de um carácter individual – já que cada peregrino refere-se a motivações de foro íntimo, não se trata de trajectória percorrida por indivíduos isolados, mas do universo simbólico criado colectivamente como reflexo de processos sociais mais abrangentes, na medida em que determinam condutas e práticas sociais referentes a papéis e identificações reconstruídas através da participação do indivíduo no cenário social”. As romarias, por outro lado, são categorizadas como evento do turismo religioso. Neste sentido salienta Cordeiro (2008, p. 3) que “a identidade do ‘romeiro’ é assim colocada em jogo na disputa simbólica das designações, passando a sofrer influências de instituições e agentes que se beneficiam com o advento do turismo religioso explorando a ideia de peregrinação como produto de consumo”. Para além das categorizações, os romeiros genericamente pedem “Curas para males físicos e espirituais; soluções para entraves em relacionamentos, inclusive de ordem familiar e amorosa; melhoria de sua localização no mundo social através de beneméritos relacionados a finanças, cargos e concursos”(CORDEIRO, 2008, p. 6). No mapeamento encontramos romarias nos municípios de Mar Vermelho, Mata Grande, Palmeira dos Índios e Santana do Ipanema. Em Mata Grande registramos uma das romarias que são frequentes, todos os finais de semana, ao Santuário Teresiano erguido pelo então conhecido Pe. Sizo. O registro aconteceu 17 de Maio de 2015. Pe. Sizo, com sua indumentária ciceriana, qual Pe. Cícero do Juazeiro é um padrinho Santo, como assim o designam seus romeiros. Caixas de papelão lacradas em forma de cofre, com retratos de Frei Damião, Pe. Cícero, Pe. Sizo e imagens de Santa Teresinha e ladeadas por mulheres vestidas em um avental vermelho escrito: RECEPÇÃO – Cenáculo Teresiano, se multiplicam em diversos pontos no labirinto do santuário (PEREIRA e MENDES JÚNIOR, 2015). Pe. Sizo, como fica evidente nas falas dos romeiros entrevistados, está para Pe. Cícero, assim como para Frei Damião, na mesma envergadura de provedor, padrinho, benfeitor e pessoa de Deus, como assim aqueles se situam no imaginário das gentes do sertão. Estas gentes estabelecem suas práticas sociais e culturais a partir das imagens que constroem de seus “padrinhos”. Escolhidos padrinhos justamente porque comungam do mesmo ethos e se apresentam a partir de uma mesma estética. Uma das entrevistadas, Rita de Alencar, relata o motivo que a levou a participar da romaria ao Santuário Teresiano por promessa a Santa Teresinha: “ Eu fui curada da enxaqueca, que eu passava o dia deitada, vomitando, peguei com ela e truxe a cabeça, paguei ali a promessa. Os dois pés que eram firidos, que peguei com ela e truxe os pézinhos, coloquei ali e fui curada dos meus dois pé” (Rita Alencar entrevistada). Afora a movimentação por ocasião da romaria do dia 17 de Maio quando houve a chegada da imagem de Nosso Senhor do Bonfim, todos os Domingos caravanas de romeiros de toda procedência chegam a Mata Grande para visitas, pagamento de promessas, aconselhamentos com Pe. Sizo. Desde a madrugada pode-se ver uma movimentação na cidade que em função de suas ruas estreitas e curtas, muitas são impedidas de transitar carros. Pelas linhas de fuga da cidade estendem-se em longas filas caminhões, ônibus, pau-de-arara, caminhonetas, motos, cavalos, jumentos. Os vendedores ambulantes expõem suas mercadorias de forma improvisada ao longo das ruas, junto aos feirantes permanentes da cidade. Nas próprias barracas dormem em redes estendidas em varais. Jovens, crianças, velhos se esquecem em gestos singulares expressando devoção, curiosidades, sofrimentos, encontros inauditos com amigos e familiares. Em Mar Vermelho não registramos uma romaria propriamente dito, mas o relato de uma informante em entrevista sobre sua participação na romaria que é organizada pela prefeita da gestão atual onde esta fornece transporte, hospedagem e camiseta com símbolo do município para os romeiros peregrinarem a Juazeiro do Norte/Ce. Em Santana do Ipanema há uma romaria a Juazeiro do Norte que foi notificada apenas por informação em entrevista, não registramos como evento. Segundo relato há indícios de forte ressignificação da peregrinação que não mais só ocorre com os romeiros se deslocando via transporte veicular e a pé, mas já estão indo de moto.

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